24.10.10


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Já passou um mês desde que cheguei a Segóvia, o que inclui três semanas de aulas. Como é óbvio existem diferenças e semelhanças, algumas boas e outras nem por isso. Juntei alguns pontos que pensei que vos pudessem interessar:


  • Edifícios
Ambos reúnem as condições necessárias para que uma aula seja eficaz: desde projectores que funcionam a primeira (não como em Portugal, que muitas vezes há que pedir a intervenção do técnico de informática) ao reconfortante aquecimento central, que pelo que sei também foi implementado este Verão na ESECS, juntamente com o ar condicionado. Obviamente que as temperaturas não são as mesmas, mas há que concordar que já houve alturas em que nem sentia as mãos para escrever. Aqui posso ficar de manga curta que ainda sinto calor! Em termos de acessibilidade na Faculdade de Publicidade existe elevador, o que faz  com que a barreira das inúmeras escaleras  que existem no edifício seja facilmente ultrapassada para quem tem a sua mobilidade reduzida (apesar de não dar acesso a todas as áreas da escola). A Faculdade de Turismo é nula nestes termos e posso dizer com segurança que seria praticamente impossível um portador de deficiência motora estudar lá. Se repararem são ambos antigos palácios, o que torna qualquer reforma inoperante. Para além disso, acredito que haja uma lei qualquer que proíba alterações em património deste tipo.


  • Professores
O coordenador de curso é impecável. Inclusive tentou responder em português aos nossos e-mails, acabando por dizer coisas como "reunião no meu despacho", mas o esforço é de louvar! É extremamente empático, o que facilita muito as coisas. Disponibilizou-se até a conversar com os outros professores se necessário, o que é mais do que se pode pedir. Em relação ao professores que nos leccionam as aulas propriamente ditas, quase todos se prontificaram a esclarecer eventuais dúvidas, demonstrando preocupação em falar mais pausadamente para facilitar a compreensão da nossa parte (o que é bem-vindo na hora de tirar apontamentos). Utilizei QUASE porque, como sempre, há um professor que parece ter gosto em nos dificultar a vida. Para além de ser o único que não vai incluir escolha múltipla no exame (que para quem não tem uma ampla gama de vocabulário é a salvação), dita literalmente a matéria! É a única aula que me sinto menos confortável. Imaginem-se de volta à escola primária, a darem por vocês a pensar como é que determinada palavra se escreve, e antes ainda, o que é que aquela palavra significa... Claro que enquanto consideram estas variáveis já perderam metade do que o prof. disse. Acabo por ficar frustrada, e penso que isso se nota, já que de há algumas aulas para cá reparei que repete o que diz de vez em quando! Arestas que se hão-de limar com o tempo.

  • Método de Ensino
Como já referi aqui também se recorre à utilização de diapositivos para explanar a matéria. Tê-los é que é mais complicado, já que apenas uma os disponibiliza na página da Universidad de Valladolid, página essa a que qualquer estudante tem acesso, sem necessidade de palavras-chave ou nome de usuário. No geral todos dão tempo de passar o seu conteúdo e não têm problema de voltar atrás se necessário. Há quem se apoie unicamente nas apresentações, quem traga notícias actuais e casos práticos para analisarmos, e quem faça exercícios no final das aulas. Resta, como seria de esperar, aqueles que apenas expõem os conteúdos oralmente, fazendo um apontamento ou outro no quadro. Felizmente são apenas um ou dois. Comparativamente, considero que aqui os professores tentam cativar mais os alunos, fazendo com que participem com a sua opinião ou fazendo-los pensar deixando um ideia em aberto. Vantagens de turmas com cerca de 60 a 70 alunos. De salientar que cá só agora de fez a transição para Bolonha, havendo muito menos componente prática (o chamado trabalho independente), como são exemplos os trabalhos de grupo e apresentações de trabalhos. Dependendo da crenças educacionais de cada professor faz-se apenas um exame a valer 100% da nota final, apoiado com um trabalho facultativo que ajuda na ponderação do exame. Apenas em Organização e Direcção do Gabinete de Comunicação os trabalhos valem 40%, facto que a docente desde logo justificou por ser defensora de Bolonha. 


  • Alunos
A grande diferença que salta à vista a partir da primeira aula é que aqui todos tiram apontamentos! Rapazes e raparigas, da primeira à última fila, todos têm material de escrita e seguem atentamente as definições dadas pelos professores. Vá podem tirar essas caras de espanto! Eu sei que a tive no primeiro dia. É incrível o silêncio que há nas aulas e a forma como todos prestam atenção. Não é que me incomode, pelo contrário... Só que como devem calcular não estava habituada aquele ambiente. E não estou a falar de alunos de último ano! Isto não me devia parecer algo do outro mundo, mas dei por mim a pensar que havia ali algum truque ou que tinham sofrido alguma espécie de lavagem cerebral. Não desfazendo a minha turma em Portugal, isto para nós é tipo utópico: ouve-se falar, mas não se tem a certeza que existe. Com toda a certeza que estão aqui em jogo factores como a educação e a cultura, já para não falar do sistema de valores. Psicologia à parte, estou grata que assim seja, até porque não têm problemas em emprestar os seus apontamentos (úteis na tal aula em que o professor dita tudo), ao contrário de um certo egoísmo com que todos de alguma forma já nos deparámos em Portugal.



  • Serviços e Funcionários
A reprografia para além de cara, peca na organização. Aqui os textos não são numerados, de forma a que quando se tem uma sebenta de 200 páginas que já passou pelas mãos de mais de meia centenas de pessoas, está tudo de tal forma baralhado que de perde o fio a meada. Não existe sistema de senhas e somos atendidos por ordem de chegada o que por vezes se torna um pouco confuso. Como só trabalha uma funcionária pode demorar um pouco até ficarmos despachados. Normalmente evito entrar quando vejo que está muita gente. Aqui não há refeitório, nem tão pouco serviço de bar ou cafetaria. Aliás, nem uma máquina de vending há! Portanto estou de volta ao velhos lanchinhos e snacks. A única máquina que há é de refrigerantes, aspecto que os alunos espanhóis parecem gostar, porque é frequente vê-los com Coca-colas e Fantas a matarem a sede no meio das aulas. Para mim não me incomoda muito, já que moro a 2 minuto da Faculdade e como frequentemente em casa. Relativamente aos funcionários, são acessíveis, prestáveis e têm sempre resposta pronta. 

    Resumindo e concluindo, o que falta em serviços é compensado pela forma de ensino e ambiente nas aulas. Tanto o ensino português como o espanhol têm as suas falhas, cabe aos alunos darem a volta por cima. É o que quero fazer este semestre. Voltar a Portugal sabendo que dei a volta por cima!

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