6.6.11




Insónia. Ausência prolongada de sono ou dificuldade grave em adormecer. Tenho andado assim estes últimos dias. Ora, para uma pessoa que está habituada a dormir "que nem um pedra" isto é mais que anormal.  Sou o tipo de pessoa perfeita para viver ao lado de uma linha de comboio. Como diz a minha mãe, a linha bem que podia passar através da casa, que eu permaneceria no meu sono de beleza como se nada se passasse. Fora de divagações, isto anda mesmo a mexer comigo. Não falo só da falta de sono, mas do facto de já ter puxado pela cabeça de todas as maneiras e feitios e mesmo assim não conseguir aproximar-me do motivo real pelo qual fico acordada. Ou será que não é só um? Vejamos:

Conversa com o meu pai, um dia destes, por telemóvel:

Pai: "Então agora quando é que vens cá?"
Eu: "Não sei pai, talvez no feriado de 10 de Junho"
Pai: "Pois, também está quase a acabar não é? Falta o quê? Mais um mês, nem isso?"
Eu: "Sim pai, daqui a um mês volto para casa definitivamente"
Pai: "Então depois tens que começar a procurar trabalho..."
Eu: "Achas que eu não sei disso?"
Pai: "Mas como isto 'tá, não sei como vais fazer... Não há trabalho para ninguém!"
Eu: "Ok pai, depois vou dando novidades. Vá xau, dá um beijo à mãe!"
(desligo a chamada)

Por onde começar? Qual o verdadeiro centro desta conversa? Um pai que está com saudades de ver a filha ou um subtil alerta de consciência como quem diz “Acabas o curso daqui a um mês, começa a pensar na vida!” Independentemente da motivação real desta conversa, isto entranhou-se. Entranhou-se de tal forma que me arrisco a dizer: eis a fonte de todos os males.

Agora que penso nisso, não foi só a alusão indirecta do meu pai à subida da taxa de desemprego para 12.6% que me levou a este estado precário de sono. O problema é que esta conversa ocorreu um dias depois da minha Bênção das Pastas, momento em que se oficializou a recta final destes 3 anos. É inevitável, o fim está iminente, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso. Quem me conhece minimamente sabe que sou completamente adversa a grandes mudanças. Ainda para mais mudanças sobre as quais não tenho grande margem de manobra. Estes foram os (cerca de) 1095 melhores dias da minha vida! E as amizades criadas deixam marca, e apesar de ter perfeita noção que isto não é o fim de nada, custa pensar-me longe das nossas piadas privadas e risos compulsivos. No fundo acaba por ser isso não é? Uma colecção de memórias, umas atrás das outras, um conjunto de novas aprendizagens que levamos de etapa para etapa, na esperança de adicionar mais umas quantas pelo caminho, aguardando que no fim façam algum sentido.

Ontem foi sem dúvida o pior episódio de todos. Quanto mais fechava os olhos, mais desperta ficava. Quanto mais tentava esvaziar tudo da cabeça, mais os pensamentos teimavam em aparecer e gritar-me ao ouvido “Estamos aqui!” e o raciocino compulsivo começava. Curioso, vêm sempre em cadeia os sacaninhas. É inevitável. Ainda não tinha esquematizado um, já outro estava a reclamar em fila de espera. E quando olhei para o relógio pela última vez eram 5.13 am. Isto depois de: ter revirado na cama uma longa hora; ter lido um livro do início ao fim; ter bebido um leite quente com chocolate; ter estado à janela a divagar sobre que tempo faria hoje e pensar em como me sinto pequena quando olho para as estrelas…

Não consegui evitar reflectir sobre como estes momentos sabem sempre a um misto de libertação e solidão. De tempos a tempos sou assolada por este último estado de alma, que tem o talento macabro de se entranhar fundo e questionar o sentido de muita coisa. Chego à sóbria conclusão que a solidão que sinto, não a sinto, penso-a. Mais um factor provável da minha ausência de sono. Ela dança-me na cabeça noite após noite e a culpa é minha que a deixo dançar!

Espero que seja só uma fase. Comigo nunca de sabe.