23.6.08

Estou na praia. E o bom é que não estou só na minha imaginação. Estou de facto sentada numa esplanada junto ao mar. Nem sabes as saudades que eu tinha desta envolvência. O mar, meu amigo das boas e más horas e meu confidente. A cada onda que passa sinto-me um pouco mais liberta, um pouco menos pré-definida. Sinto-me mais próxima do me “eu”, seja ele qual for. Quantas vezes não estive aqui, neste lugar, horas a fio, simplesmente a ouvir o mar. a deixar-me envolver? Quantas vezes chorei, sem motivo aparente, sozinha, apenas ouvindo este mesmo som que hoje ecoa neste lugar?
Aqui sinto-me bem. Não preciso de usar aquela mascara a que todos estão habituados. Aqui posso ser eu, sem medos nem vergonhas. Aqui sinto-me aconchegada e em paz, algo que raramente consigo atingir. Pensar que passei quase dois anos sem este meu pequeno paraíso. Desperdício. Confrontei-me a tempo com os meus erros.
Não há ninguém aqui (ignorando a família de ingleses que almoça calmamente nesta mesma esplanada). E apesar de os estabelecimentos de comércio habituais já estarem abertos, continuo a sentir-me confortável aqui.
A cada grão de areia pertence uma memória minha. Apesar dos meus (apenas) 19 anos de existência guardo bastantes aqui. Mais do que necessitava.

(fui interrompida por uma conhecida, conversa trivial apenas, sem interesse para o tema)

Enfim, definitivamente (tenho que começar a por de parte esta palavra) não há lugar no mundo comparável a este. Sim, as Maldivas e as Filipinas não contam. Esta é a minha praia. Este é o meu mar. Ai de quem diga o contrário! Perigo de morte garantido com certeza…
Escrevi neste lugar muitas das minhas poesias, curiosamente nenhuma dedicada ao senhor deste lugar, o mar. Minto, agora me lembro, tenho em um dos meus cadernos algo sobre ele. Quando chegar a casa vou procurar para te mostrar.
Gostava que a minha vida fosse mais como as ondas deste mar. A cada onda areia é remexida, renovada, desaglomerada... a cada embate, mudança. Preciso de um embate como esse neste momento. Sei que em Julho começam as candidaturas mas enquanto não estiver a sair da universidade com a matrícula já feita, tudo é incerteza. E enquanto houver esta incerteza persistente, não consigo mudar. E digo mudar no sentido da palavra. Não pequenas alterações na rotina e nos hábitos.
Em Leiria seria uma nova Lena. Diferente daquela que conheces. Mais determinada, como estas ondas farei mais sentido. Com um rumo traçado e com um numero relativo de objectivos na cabeça. Tentarei ser menos ingénua. Sabes que isso vais ser o mais difícil. Não o admito, nem aos meus amigos nem a ti (a família de ingleses acaba de sair). Eu e os meus defeitos nunca fomos muito íntimos. Limito a guarda-los numa gaveta separada no meu ser. Trancada a sete chaves de preferência. Não quero com isto dizer que tenha algum problema emm admiti-los. Não tenho. Decido apenas ignora-los. Há-de chegar o dia em que nos confrontaremos, mas par aja não.
O sol começa a espreitar neste dia que tyeima em ser cinzento. Não que eu me preocupe muito, porque na verdade é-me indiferente neste momento.
(suspiro)
Houve alturas em que senti, de facto, a falta de alguém do meu lado. Curioso que não o sinta agora. Acho que é a primeira vez que me sinto confortável por estar sozinha.
Esta semana tem sido um confronto constante entre mim e a senhora Solidão. Chorei. Chorei muito. Sem que ninguém se apercebesse. Libertei angustias que retrai desde que voltei a casa. Entendi que não posso esperar mais dos meus amigos. Eles já fazem bastante. Sou eu que sou demasiado exigente. São os meus padrões, já estás habituado a eles, mas os outros não.
Gostava que um dia alguém me conhecesse como tu me conheces. Acho nunca ninguém se esforçou o bastante. Nem mesmo aqueles que pensam que sou um livro aberto. Conhecem o que dou a conhecer, e satisfazem-se com isso. Tu sabes que sou muito mais. Um dia alguém há-de saber, tal como tu, por mais distante e impossível que isso se pareça.
Tenho pena de nunca ter chegado a receber um abraço teu. Até mesmo estas ondas já me abraçaram. Acho que todos os meus amigos me deram pelo menos um abraço. Todos menos tu. É injusto. A vida é injusta, isso é dado adquirido
Curioso chamar-te “meu amigo”. Não devia, se nunca te cheguei a conhecer. É estranho, mas sinto que sempre estives-te aqui para mim. Sempre, sem barreiras espaciais ou temporais.
Estou cansada. Todo o meu corpo está cansado. Até a alma me pesa nos ombros.

1 comentário:

Joana é o meu nome disse...

Se isto fosse o texto de contracapa d'um livro, de certeza q o comprava.